“Como Falar para as Crianças Ouvirem e Ouvir para as Crianças Falarem”

De Adele Faber e Elaine Mazlish

Alguns livros passam, outros ficam.
Algumas leituras distraem-nos, outras despertam-nos.
E por vezes, há um livro que nos cai nas mãos como uma resposta, como uma mão estendida no tumulto dos nossos dias com os nossos filhos. Um livro que, sem julgar, ilumina os nossos erros e nos convida a refazer o laço.

Como Falar para as Crianças Ouvirem e Ouvir para as Crianças Falarem” não é apenas um manual de educação. É uma ponte. Uma ponte suspensa entre dois mundos: o do adulto apressado, muitas vezes sobrecarregado, por vezes desorientado, e o da criança, cheio de necessidades não expressas, de linguagem ainda incipiente e de tempestades emocionais.

Este livro, escrito por Adele Faber e Elaine Mazlish, é uma lufada de ar fresco num mundo onde se grita mais do que se ouve, onde se exige mais do que se acolhe. Faz parte desta nova vaga de parentalidade consciente, que não procura controlar as crianças, mas sim acompanhá-las. Para se juntar a ela na sua humanidade.

A arte da comunicação benevolente

Desde as primeiras páginas, torna-se claro que nem sempre sabemos como falar. Não é bem assim. Sabemos como ordenar, aconselhar, corrigir, ameaçar e prometer. Mas falar para nos relacionarmos, falar para compreender, falar para criar o espaço para uma escuta genuína… isso é outra aventura.

O livro convida-nos a mudar a nossa posição. Deixar para trás a postura do pai todo-poderoso, mestre do conhecimento, e vestir o manto mais humilde – mas tão poderoso – do pai que aprende a ouvir.

Ouvir, sim, mas ouvir verdadeiramente.
Ouvir o que está por detrás da raiva, por detrás do silêncio, por detrás do “não”. Ouvir para adivinhar o que a criança ainda não tem palavras para dizer. E nesse silêncio, que se estende entre duas respirações, oferecer à criança a possibilidade de falar. De existir.

Um guia enraizado na vida quotidiana

O que impressiona neste livro é a sua profunda humanidade. Nada é teórico. Tudo é vivido, encarnado, alimentado por exemplos concretos. Encontramos diálogos transcritos, situações banais que se tornam esclarecedoras, ferramentas simples e eficazes que podemos pôr em prática no dia seguinte.

Cada capítulo é um abrir de olhos e um espelho. Descobrimos estratégias para lidar com os sentimentos difíceis das crianças, para encorajar a sua cooperação sem gritar, para substituir o castigo por alternativas respeitosas, para encorajar a sua autonomia, para valorizar sem manipular.

Acima de tudo, este livro ensina-nos a arte das relações.

Uma mudança de perspetiva

Ler “Como Falar para as Crianças Ouvirem e Ouvir para as Crianças Falarem” significa aceitar mudar a nossa maneira de ver as coisas.
Não é a criança que precisa de ser transformada, mas a nossa forma de estar com ela.
E esta inversão de perspetiva é talvez a revolução mais suave – e mais poderosa – que se pode experimentar como pai ou mãe.

Já não se trata de ter razão, de ganhar batalhas ou de apagar emoções como se apaga uma vela. Trata-se de crescermos juntos. Aprender a falar de forma diferente, com respeito e autenticidade. Ousar acolher as tempestades sem querer controlá-las. Aprender a dizer “não” com firmeza, mas sem violência, e a ouvir o “não” da criança como uma expressão de integridade, não como um ataque pessoal.

Esta mudança exige coragem. Porque nos expõe. Convida-nos a revisitar a nossa própria infância, a desconstruir as injunções gravadas em nós, a ousar pôr palavras onde, por vezes, não havia nenhuma.

Um convite à lentidão

Há uma poética da lentidão neste livro. Um apelo ao abrandamento.
Para sair do modo automático. Para deixar de correr atrás do resultado.
Cada troca torna-se um espaço de presença. Uma dança. Um ajuste.

Por vezes, basta uma palavra para mudar tudo.
Um silêncio que nos faz ouvir.
Um olhar que diz: estou a ver-te, tens o direito de ser tu aqui e agora.

É disso que se trata a parentalidade consciente. Uma presença radical para si e para o seu filho. Uma arte de atenção, de delicadeza, de ligação.

Ferramentas, mas sobretudo uma postura interior

É tentador ler este livro como uma caixa de ferramentas. E é-o certamente.
Mas isso seria reduzir o seu alcance. Porque por detrás de cada ferramenta está uma filosofia. Uma visão da criança como um ser de pleno direito, digno de respeito e capaz de cooperar, desde que saibamos falar com ela corretamente.

Os autores não nos dão fórmulas mágicas. Oferecem-nos chaves. Mas cabe-nos a nós fazer a viagem. Tentar, falhar, tentar de novo. Ousar dizer aos nossos filhos: eu também estou a aprender.

É um processo profundamente humano. Imperfeita, sim. Mas viva. E é essa a beleza desta abordagem.

Uma leitura que deixa a sua marca

Este livro não nos deixa indiferentes.
Fecha-se um pouco mudado. Mais conscientes.
E, por vezes, quando o pomos na mesa de cabeceira, lembramo-nos daquela frase que dissemos demasiado depressa, daquela raiva que podíamos ter acolhido, daquele momento em que podíamos ter estendido a mão em vez de levantar a voz.

Mas, longe de nos fazer sentir culpados, este livro eleva-nos. Nunca nos condena. Encoraja-nos. Lembra-nos que estamos a fazer o melhor que podemos, e que esse melhor pode crescer com um pouco de luz, um pouco de consciência, um pouco de coragem.

Uma leitura para os pais… e para toda a gente

Este livro é um recurso valioso para os pais, como é óbvio. Mas vai para além disso. É para qualquer pessoa que tenha alguma coisa a ver com crianças: educadores, professores, avós, terapeutas. Basicamente, destina-se a qualquer pessoa que queira melhorar as suas capacidades de comunicação e construir relações mais respeitadoras e mais genuínas.

Porque o que este livro nos ensina sobre as crianças, também nos sussurra sobre as nossas relações com os adultos. E se ouvíssemos mais antes de responder? E se reconhecêssemos as emoções da outra pessoa antes de as tentarmos resolver? E se aprendêssemos a exprimir as nossas necessidades sem censura, a estabelecer limites sem magoar?

Um livro que restabelece as relações

“Como Falar para as Crianças Ouvirem e Ouvir para as Crianças Falarem” tem um carácter poético.
Algo terno, real e restaurador.
Este não é um livro que grita verdades. É um livro que sussurra possibilidades. Desperta em nós o desejo de amar melhor, de falar mais suavemente, de ouvir com o coração.

Este livro não nos promete filhos perfeitos.
Oferece-nos um caminho para nos tornarmos adultos mais presentes.
E essa é talvez a melhor promessa de todas.

Há leituras que espalham sementes.

“Como Falar para as Crianças Ouvirem e Ouvir para as Crianças Falarem” é uma delas.
Uma semente de consciência, de humildade e de paz.
Uma semente que, regada com prática e amor, pode transformar muito mais do que o quotidiano: pode transformar uma relação. E com ela, todo um futuro.

Escrito por Alexandrina Cabral

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