A Comunicação Não Violenta (CNV) é um método desenvolvido pelo psicólogo Marshall Rosenberg que busca promover interações mais empáticas e eficazes. Num mundo onde a comunicação muitas vezes se torna um campo de batalha de opiniões e interesses, a CNV oferece uma abordagem poderosa para melhorar a qualidade das relações interpessoais e resolver conflitos de maneira construtiva respeitando-se a si próprio e a outra pessoa. Em vez de usar a linguagem para atacar, julgar ou manipular, a CNV encoraja a expressão autêntica e a escuta ativa, permitindo que todas as partes envolvidas se sintam ouvidas e compreendidas. Mais do que um método, é uma filosofia de vida, uma ética relacional que podemos utilizar com os nossos filhos.
Quando as palavras magoam as relações
Comentários desagradáveis, críticas, julgamentos, comparações e exigências são formas de expressão que podem danificar a relação. Numa comunicação “tradicional”, não é raro pedir, ou mesmo exigir, algo que é suscetível de ser entendido como um restrição pela criança. E quando as palavras já não são suficientes, tentamos outra estratégia, como o grito a repreensão, ou o castigo. Mais uma vez, já reparou que, por vezes, podemos repetir as coisas 5 vezes, 10 vezes, 100 vezes…?
“Podes emprestar na mesma, és apenas egoísta!”Como é que queres que eu confie em ti?”
Acham que as crianças podem aumentar a sua autoestima quando estas pequenas reacções lhes são incutidas (e muitas vezes sem sequer pensarem nisso)? O objetivo não é fazer com que se sintam culpadas… porque é verdade que todos nós damos o nosso melhor.
A comunicação não violenta muda esta mentalidade, tentamos evitar rótulos, “sempre” e “nunca”. Somos convidados a afastarmo-nos da situação. A permanecer objectivos e benevolentes. A ouvir os nossos sentimentos. Para sermos realmente observadores da situação, sem nos deixarmos apanhar por todos os pensamentos que se estão a acumular-se nos nossos cérebros demasiado treinados a uma velocidade vertiginosa…. (Sim, sim, tenho a certeza que já ouviram falar daquela bicicleta ♀️ que pedala e se zanga antes mesmo de o nosso filho abrir a boca).
Escutar as emoções
Sendo a comunicação não-violenta centrada sobretudo na linguagem das emoções, as nossas e as dos outros, pode ser utilizada com os nossos filhos muito antes de eles terem acesso à fala.
Muitos dos comportamentos dos nossos filhos têm origem nas suas emoções. As crianças sentem as emoções no seu corpo. Por isso, é natural que as exprimam fisicamente. Para algumas, esta expressão é demasiado ruidosa, demasiado alta, demasiado vigorosa… “Pára com a birra!” “Cala-te!” “É tão ridículo estar assim por causa de um pequeno carro! Se os impedirmos de se exprimirem, será difícil para eles aprenderem a ver o que está por detrás da emoção, e podem pensar que a emoção é má e que não deve “sair”. Se as emoções de uma criança não forem tidas em conta, ou mesmo se forem castigadas quando as exprimem, correm o risco de minar a sua autoestima e a sua segurança interior, tão importantes para se tornarem adultos.
Assim, se ajudarmos os nossos filhos a distinguir e a compreender as suas emoções, eles poderão gradualmente começar a reconhecê-las e a controlar o seu comportamento. Isto permitir-lhes-á desenvolver a sua inteligência relacional. As crianças crescem com o modelo de relação que lhes é apresentado. Quanto mais empatia lhes for demonstrada, mais serão capazes de desenvolver em relação aos outros.
Eis, portanto, uma grande missão para nós, pais: dar-lhes as chaves para distinguirem e compreenderem os seus sentimentos e, depois, saberem como reagir no seu ambiente.
Os Quatro Componentes da Comunicação Não Violenta
1. Observação
Trata-se de apresentar os factos de forma objetiva, sem julgamento ou avaliações, para não ser crítico (imagine uma câmara a filmar a cena, sem um filtro emocional).
2. Expressão de sentimentos
Os sentimentos são indicadores do nosso estado de espírito, tentamos exprimir os nossos sentimentos por palavras, (e talvez os dele também). Uma das chaves é utilizar o “eu” em vez do “tu”. Se eu começar com as minhas emoções, a outra pessoa só pode observar o que eu estou a sentir. Com o TU, por outro lado, corre-se o risco de acusar.
Isso reduz a defensiva e abre espaço para uma conversa construtiva.
3. Exprimir as suas necessidades
É importante estarmos conscientes das nossas necessidades e exprimi-las claramente. A ligação entre sentimentos e necessidades permite-nos assumir a responsabilidade pelos nossos próprios sentimentos sem limitar a causa às acções dos outros.
4. Formular um pedido (não uma exigência)
Faça um pedido claro e específico para atender às suas necessidades.
Outra possibilidade é procurar uma solução em conjunto, o que por vezes é ainda mais eficaz.
Porquê adotar esta forma de comunicação?
A CNV é uma forma simples e natural de comunicar, mas muitas vezes esquecemo-nos dos seus princípios porque a nossa capacidade de julgamento é muito grande.
Começar de novo baseando-se na comunicação não violenta exige que repensemos fundamentalmente a forma como nos expressamos diariamente, é uma ferramenta maravilhosa para construir e manter a nossa relação com os nossos filhos, mas o trabalho começa connosco!
Para a usarmos, precisamos de ser claros em relação às NOSSAS emoções e às NOSSAS necessidades. Isto pode parecer difícil para muitos de nós, mas posso garantir-vos que, com um pouco de desenvolvimento pessoal, podemos evoluir mais depressa do que imaginamos.
Finalmente, não esqueçamos que mudar a forma como comunicamos leva tempo. Para começar, precisamos de ser pacientes e bondosos connosco – nada disso surge naturalmente (especialmente porque raramente somos ensinados a comunicar com bondade e compaixão).
Tentamos, tropeçamos, encontramos o equilíbrio, esfolamos os joelhos… e depois, um dia, apercebemo-nos de que demos a volta à rua sem cair! Que motivo de orgulho!

Escrito por Alexandrina Cabral
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