Na azáfama da vida quotidiana, em que cada minuto parece escorregar pelas nossas mãos como grãos de areia, a paciência parece muitas vezes um luxo inatingível. No entanto, na parentalidade consciente, a paciência é uma bússola preciosa, que orienta as nossas acções e as nossas palavras. Cultivar a paciência significa aprender a abrandar, a respirar, a ouvir o nosso filho e a nós próprios. Mas como podemos encontrar esta respiração num mundo que nos pressiona a cada passo? Vamos explorar este caminho juntos, como se estivéssemos a domar um rio tumultuoso.
Paciência, uma semente para semear dentro de si
Acima de tudo, a paciência é um processo íntimo. Não é inata; tem de ser cultivada como um jardim que cuidamos com amor. Começa com a aceitação dos nossos limites. Por vezes, zangamo-nos connosco por levantarmos a voz, por reagirmos demasiado depressa. Mas cada momento é uma oportunidade para começar de novo. A paciência germina neste espaço onde nos perdoamos e reconhecemos que a educação é um processo de aprendizagem mútua.
É essencial reservar algum tempo para nos concentrarmos. Isto pode assumir a forma de pequenos rituais: uma chávena de chá tranquila, alguns minutos de respiração consciente ou um passeio ao ar livre. Estes momentos não são fugas, mas sim âncoras. Permitem-nos abordar as situações com maior serenidade.
Escutar: uma ponte entre dois mundos
No tumulto das crises e das emoções fortes, a escuta torna-se a chave para abrir as portas da incompreensão. Escutar o seu filho é mais do que apenas ouvir as suas palavras. Implica perceber as suas necessidades por detrás do seu silêncio, da sua raiva ou das suas lágrimas. Significa parar, descer ao nível da criança e olhar para ela com um olhar de simpatia.
Mas também precisamos de nos ouvir a nós próprios. Quais são as nossas próprias necessidades, as nossas feridas que por vezes são reavivadas pelos nossos filhos? Esta introspeção não é egoísmo, mas um ato de amor. Porque um pai que se escuta a si próprio está melhor preparado para acolher o seu filho em toda a sua complexidade.
Transformar a impaciência numa oportunidade de aprendizagem
Quando a impaciência surge – e vai surgir – pode ser transformada numa oportunidade de aprendizagem. Em primeiro lugar, reconhecendo a sua presença sem se sentir culpado por isso. Em vez de a reprimir, observemo-la: porque é que ela existe? Que parte de nós está a pedir atenção?
Depois, usemo-la para ensinar os nossos filhos. Mostremos-lhes que a impaciência é humana, mas que pode ser domada. “Desculpem, sinto que estou a perder a paciência. Vou tirar um momento para me acalmar”. Estas palavras simples mas poderosas oferecem um modelo de auto-gestão das emoções. Ensinam-lhes que a impaciência não é uma fatalidade.
O poder do tempo
Vivemos numa sociedade que valoriza o imediato. Mas a infância não obedece a essas regras. Desenrola-se ao seu próprio ritmo, por vezes lentamente, por vezes de forma caótica. Cultivar a paciência significa aceitar este tempo longo. Significa aceitar que o treino para usar o bacio ou para gerir as emoções demorará semanas, meses ou mesmo anos.
Esta visão pode ser libertadora. Liberta-nos da ilusão de controlo. Não somos equilibristas que tentam manter um patamar perfeito, mas jardineiros que acompanham o crescimento imprevisível de um ser em formação.
Criar rituais para ancorar a paciência
Os rituais são faróis no oceano de incerteza dos pais. Proporcionam um enquadramento tranquilizador tanto para a criança como para os pais. Um momento de leitura todas as noites, uma canção ao acordar ou um passeio semanal na floresta podem tornar-se ilhas de paz. Estes momentos repetitivos ancoram a relação ao longo do tempo e aliviam as tensões.
Estes rituais também ajudam a cultivar a presença. A paciência nasce frequentemente da nossa capacidade de estarmos totalmente presentes, no momento. Quando deixamos de correr atrás do amanhã, encontramos uma energia insuspeita para enfrentar os desafios de hoje.
A gratidão como bússola
Finalmente, a gratidão é um poderoso remédio contra a impaciência. Todas as noites, paremos um momento para refletir sobre as pequenas vitórias do dia: um sorriso partilhado, uma raiva acalmada, uma gargalhada. Estas recordações tornam-se tesouros que nos lembram porque é que escolhemos este caminho de sermos pais conscientes.
A gratidão faz com que nos concentremos no que é essencial: o amor. Este amor imperfeito, por vezes desajeitado, mas infinitamente poderoso, que nos leva todos os dias a tornarmo-nos melhores guias para os nossos filhos.
A paciência no seu melhor
Cultivar a paciência significa aceitar que estamos a fazer uma viagem. É uma dança entre a fragilidade das nossas emoções e a solidez do nosso empenhamento. Cada dia oferece uma nova oportunidade para semear o amor, o perdão e a presença.
E talvez um dia, ao vermos os nossos filhos explorarem o mundo com confiança e alegria, nos aperceberemos de que a paciência que cultivámos deu frutos. Não por os tornarmos perfeitos, mas por os ajudarmos a tornarem-se eles próprios, em todo o seu esplendor único.

Escrito por Alexandrina Cabral
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