Há coisas que não nos ensinam na escola. Coisas essenciais no entanto, que tecem o tecido invisível das nossas relações e colorem os nossos silêncios. A inteligência emocional é uma dessas coisas. Não se pode ensiná-la da mesma forma que se aprende a calcular ou a ler e, no entanto, ela molda cada interação, cada olhar que trocamos, cada mão que estendemos ao outro. É uma linguagem íntima e silenciosa, uma música interior que nos guia na grande dança da vida.

Num mundo onde a agitação exterior parece querer sufocar os nossos impulsos interiores, torna-se essencial ajudar os nossos filhos a cultivar esta inteligência do coração. Mas como transmitir-lhes o que nós próprios talvez tenhamos aprendido demasiado tarde? Como é que lhes podemos dar as chaves para uma bússola emocional sólida?

Ouvir antes de ensinar

A inteligência emocional não pode ser ensinada através de palestras. Tem de ser vivida e incorporada nas relações. As crianças aprendem observando-nos, absorvendo as nossas reacções, adivinhando nos nossos silêncios o que as nossas palavras não dizem. Antes mesmo de tentar ensiná-las a exprimir as suas emoções, comecemos por ouvir as nossas. Acolhamo-las com bondade, sem vergonha nem repressão, porque é assim que lhes mostraremos como fazer o mesmo.

Pôr palavras nas ondas interiores

As emoções são como o oceano: inconstantes, imprevisíveis, por vezes tumultuosas. Uma criança que não consegue exprimir em palavras o que está a sentir é como um marinheiro sem bússola apanhado numa tempestade. Dar-lhes palavras é como dar-lhes uma âncora. “Estás zangado porque o teu irmão te tirou o brinquedo? Estás triste porque o teu amigo se foi embora? Estas frases simples abrem um espaço de compreensão e de tranquilidade. Dar nomes é reconhecer. Reconhecer é domar.

Acolher sem corrigir

Como pais, é tentador querer aliviar a dor do nosso filho, apagá-la com palavras de conforto: “Não é nada, vai passar”, “Não chores”. Mas estas palavras, por muito bem intencionadas que sejam, apagam os sentimentos da criança. Ensinam-na a guardar os seus sentimentos para si própria em vez de os acolher. Em vez disso, podemos atrever-nos a dizer: “Vejo que estás triste”, “Compreendo que estejas zangado”. Ofereçamos-lhes um espaço onde as suas emoções são legítimas, onde podem passar por elas sem medo de as verem negadas.

Cultivar a paciência e a lentidão

Numa sociedade que prega o imediatismo, dedicar tempo a ouvir os nossos sentimentos torna-se um ato de resistência. A inteligência emocional constrói-se lentamente. É tecida nos momentos em que observamos as tonalidades do nosso próprio mundo interior, quando aprendemos a reconhecer o surgimento de uma emoção antes que ela nos arrebate. Ajudar o seu filho a desenvolver esta consciência significa dar-lhe a oportunidade de desempenhar um papel ativo na sua experiência.

Aprender através do jogo e da imaginação

As crianças exploram o mundo através da brincadeira, e as emoções não são exceção. Fantoches que exprimem alegria, raiva e medo. Histórias em que as personagens vivem tempestades interiores antes de regressarem à calma. Desenhos em que as cores reflectem os estados de espírito do momento. A imaginação é um ótimo terreno de aprendizagem. Permite às crianças experimentarem, distanciarem-se, compreenderem sem terem de se revelar demasiado diretamente.

Ser um refúgio

Não podemos evitar que os nossos filhos sintam tristeza, raiva ou frustração. Mas podemos ser o seu refúgio, esse lugar seguro onde sabem que serão sempre bem recebidos tal como são. Quando nos mantemos calmos perante as suas tempestades emocionais, oferecemos-lhes um modelo de estabilidade interior. Desta forma, eles aprendem que uma emoção, por mais forte que seja, acaba sempre por se acalmar.

Inteligência emocional, uma bússola para a vida

Ao ajudarmos os nossos filhos a cultivar a sua inteligência emocional, estamos a dar-lhes uma dádiva preciosa, uma bússola para navegar na complexidade do mundo. Ensinamo-los a ouvir o seu coração sem sermos escravos dele, a compreender os outros sem nos esquecermos de nós próprios. Damos-lhes a capacidade de criar laços profundos, de estar em harmonia com os seus sentimentos, de crescer em autenticidade.

E se, ao acompanhá-los nesta busca interior, aprendermos também a ouvir-nos melhor a nós próprios? Afinal de contas, a inteligência emocional não tem idade. Pode ser cultivada ao longo da vida, como uma chama protegida do vento, um sopro precioso que nos lembra que sentir é viver.

Escrito por Alexandrina Cabral

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