Há tempestades no coração de uma criança que não se vêem. Rajadas de raiva, ondas de tristeza, sóis de alegria ardente, flashes de incompreensão. Nas crianças, a emoção é a primeira linguagem. Antes das palavras, antes do raciocínio, há o corpo que treme, os olhos que se enchem de lágrimas, as mãos que batem palmas. Perante isto, o nosso papel de pais não é apagar o fogo, mas aprender a dançar com ele.

Ajudar o seu filho a gerir as suas emoções não é tentar controlá-las, é tentar compreendê-las. Não se trata de silenciar, mas de ouvir. Neste artigo, exploramos a forma como podemos oferecer aos nossos filhos um espaço seguro para aprenderem a lidar com os seus sentimentos.

Reconhecer a emoção como um mensageiro

Um dos primeiros passos para uma educação emocional atenciosa é ver as emoções como um aliado e não como um inimigo. Numa sociedade que valoriza a calma, o desempenho e o controlo, as explosões emocionais são muitas vezes vistas como um fracasso. No entanto, cada emoção diz-nos algo essencial.

A raiva fala muitas vezes de limites não respeitados. A tristeza, uma necessidade de conforto. O medo, um apelo à segurança. E a alegria, um alinhamento profundo com o que está vivo dentro de nós.

As crianças não são demasiado sensíveis; estão ainda totalmente ligadas ao seu interior. E a nossa missão é ajudá-las a preservar essa riqueza, ajudando-as a pôr aquilo que sentem em palavras, a regular e a compreender.

Oferecer um espelho calmo: A co-regulação

Antes de se poderem auto-regular, as crianças passam por uma fase em que precisam de co-regular com os adultos. Isto significa que é a nossa própria calma, a nossa própria presença enraizada, que lhes permitirá sentirem-se seguras para passarem pelo que estão a sentir.

Quando uma criança chora, grita ou se fecha, a nossa postura interior é crucial. O que conta não é tanto o que dizemos, mas a energia com que o dizemos. Uma voz suave, um olhar envolvente, por vezes uma presença silenciosa, são melhores do que mil palavras.

Nomear as emoções para as domar

Pôr palavras no que se está a sentir é o primeiro passo para o domar. Como diz a Comunicação Não-Violenta, “por detrás de cada emoção, há uma necessidade”.

Oferecer às crianças um vocabulário emocional rico equipa-as para toda a vida. Em vez de dizer simplesmente “estás zangado”, podemos dizer:

“Tenho a impressão de que te sentes frustrado porque gostarias de ter continuado a jogar. É isso?”
Ou então:

  • “Estás triste porque precisavas de te sentir ouvido”.

Os livros, os jogos simbólicos, os fantoches, os desenhos… são ferramentas para explorar suavemente o mundo interior. estes momentos podem inserir-se naturalmente no ritmo do dia: após um conflito entre irmãos e irmãs, durante a hora do silêncio ou no final do dia.

Criar um espaço seguro para a expressão

Para que as emoções fluam, as crianças precisam de sentir que o que estão a sentir está a ser aceite sem julgamento. Isto exige que o adulto se afaste das suas próprias feridas e da necessidade de domínio ou controlo.

Um espaço seguro é um lugar – físico ou simbólico – onde a criança pode dizer: “Tenho medo”, “Não compreendo”, “Estou zangado”, sem medo de ser castigada, gozada ou ignorada.

Em casa, pode ser um canto tranquilo com almofadas, uma tenda sensorial ou um caderno secreto. Mas, acima de tudo, é um espaço de relação, de ligação. Um pai que diz:

“Estou aqui para te ouvir. O que sentes tem valor”.

Cultivar a inteligência emocional no dia a dia

Gerir as emoções não é uma competência reservada às “crises”. Pode ser cultivada nos pequenos gestos da vida quotidiana: comentando as próprias emoções (“Hoje estou um pouco stressado, preciso de respirar um pouco”), acolhendo o espanto da criança (“Estás muito feliz por teres encontrado essa borboleta!”), traduzindo em palavras as relações entre irmãos e irmãs (“Gostarias que ele esperasse por ti, é normal que estejas chateado”).

A educação familiar oferece um terreno fértil para estes diálogos. Não há horários apressados, notas que julgam, nem competição por lugares. Há tempo, proximidade e escuta.

Seja um modelo vivo de autenticidade emocional

Por último, as crianças aprendem muito menos com o que dizemos do que com o que encarnamos. Se dissermos “não faz mal chorar” mas escondermos as nossas lágrimas, ou se dissermos “exprime-te” mas reprimirmos a nossa raiva, a criança recebe uma mensagem dupla.

Atrever-se a ser si próprio, nas suas emoções, com respeito, abre o caminho. Não significa fazer das crianças confidentes das nossas tempestades, mas mostrar-lhes que é normal passar por elas. E que há formas saudáveis de nos exprimirmos, de nos transformarmos e de nos curarmos.

Apoiar as crianças é uma viagem partilhada

Ajudar o seu filho a gerir as suas emoções é, acima de tudo, uma aventura partilhada. É uma viagem de humildade, lentidão e exploração interior. Não é como ensinar cores ou números, trata-se de caminhar ao lado do seu filho, ao nível da alma.

E neste companheirismo, nós crescemos tanto quanto eles. Porque cada emoção que eles experimentam desperta em nós um fragmento esquecido, uma memória enterrada, uma sensibilidade que talvez tenhamos deixado de lado.

Portanto, quer se trate de uma rotina diária de ensino em casa, ou de uma educação mais tradicional, lembremo-nos: as crianças não precisam de um pai perfeito. Precisam de um pai que esteja presente, curioso e amoroso. Um pai que se atreva a ver a emoção como um convite ao encontro.

Escrito por Alexandrina Cabral

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