Não existe um manual para ser pai ou mãe. Não existe um mapa específico para navegar nas tempestades, nem um GPS emocional para nos guiar pelas voltas e reviravoltas da parentalidade. No entanto, no tumulto da vida quotidiana, existe uma bússola: a da parentalidade consciente. Uma forma de estar no mundo com os nossos filhos, não os moldando, mas acompanhando-os enquanto florescem.

Aqui estão dez princípios, como dez sementes a semear no coração das nossas relações, para cultivar uma ligação viva e profunda com os nossos filhos e ajudá-los a tornarem-se seres livres, confiantes e realizados.

1. Ligação antes da correção

A criança não é um recipiente a encher ou um erro a corrigir. É um ser em construção, que procura a segurança de uma ligação antes de qualquer outra coisa. Antes de recomeçar, é indispensável restabelecer a ligação. Um olhar, uma mão no ombro, um sussurro terno podem ser suficientes para reacender a confiança. Quando as crianças se sentem incondicionalmente vistas e amadas, tornam-se mais receptivas, mais abertas ao crescimento.

A parentalidade consciente começa aqui: não no controlo, mas na relação.

2. Acolher as emoções sem as julgar

As emoções das crianças são como ondas: poderosas, repentinas, por vezes desconcertantes. Não são boas nem más. Estão simplesmente presentes. Acolher a raiva sem castigar, o medo sem minimizar, a tristeza sem fugir, significa dar às crianças permissão para serem plenamente humanas.

Dar nome às emoções, acompanhá-las, dá raízes à criança. É ensinar-lhes que podem enfrentar as tempestades mantendo-se de pé.

3. Escutar com o coração

No silêncio de uma escuta autêntica, a criança sente que existe. Demasiadas vezes, respondemos com soluções, conselhos, lições… Mas o que a criança quer é ser ouvida. Ouvida de verdade.

Escutar significa suspender o julgamento. Significa sentar-se ao seu nível, olhar para ela como se estivesse a ler um poema. Significa aceitar sem tentar consertar as coisas. E, por vezes, isso é suficiente para curar.

4. Ofereça limites seguros, sem violência

O amor não exclui limites. Muito pelo contrário, de facto. As crianças precisam de pontos de referência para se sentirem seguras, mas não precisam de ser quebradas para aprenderem.

Os limites do amor são claros, constantes e estabelecidos com delicadeza. Não são muros, mas balizas. Não confinam: protegem. Ensinam a responsabilidade sem esmagar o gosto pela vida.

5. Cultivar a cooperação, não a obediência

A obediência impõe. A cooperação propõe. Na parentalidade consciente, não procuramos submeter, mas colaborar. Trabalhar em equipa com a criança.

Isto significa renunciar ao poder a favor de uma relação. Explicar em vez de dar ordens. Ser criativo na resolução conjunta de conflitos. Porque uma criança que coopera é uma criança que se sente respeitada.

6. Ancorar-se no momento presente

A infância passa tão depressa. No entanto, quantas vezes damos por nós noutro lugar, presos no futuro ou engolidos pelo passado? Ser pai ou mãe é um convite constante a estar totalmente presente.

A saborear os risos, os silêncios, as mil pequenas coisas da vida quotidiana. Para ver realmente o nosso filho, em toda a sua singularidade, hoje. E escolher estar presente. Não perfeito, mas completo.

7. Cuidar de si para cuidar melhor dos outros

A paternidade é exigente e, por vezes, esgotante. É uma ilusão dar sem dar o suficiente. Cuidar de si não é egoísta – é uma necessidade. É um ato de amor.

Dormir, respirar, andar descalça na relva. Ler um poema, telefonar a um amigo, chorar quando é demasiado. Porque um pai que ouve é um pai que ensina a ouvir.

8. Ver o comportamento como linguagem

Por detrás de cada crise, de cada oposição, está uma necessidade não satisfeita. O comportamento nunca é um problema: é uma mensagem.

E se, em vez de reagirmos, aprendêssemos a traduzir? A ler os gestos como palavras silenciosas, os silêncios como apelos. A procurar a origem em vez de remendar as coisas. As crianças não procuram manipular, procuram ser compreendidas.

9. Incentivar em vez de recompensar

As recompensas podem motivar a curto prazo, mas não contribuem para a autoestima. Tornam-no dependente do mundo exterior. O encorajamento é outra coisa. Significa reconhecer o esforço, a perseverança e os progressos efectuados.

É dizer à criança: “Estou a ver-te. Estás a progredir. Tu és capaz. É oferecer-lhe um espelho benevolente no qual ela se pode ver, para além do seu desempenho.

10. Amar incondicionalmente

E, finalmente, amar. Amar mesmo quando é difícil. Amar mesmo quando uma criança grita, morde, bate ou rejeita. Amar quando eles estão em baixo, quando estão cansados, quando são imperfeitos. Amar sem esperar que eles mudem.

Porque é este amor incondicional que constrói a criança de dentro para fora. Permite-lhe desdobrar-se, ousar, cair e levantar-se de novo. Uma criança que sabe que é amada tal como é não tem necessidade de se justificar para existir. Ela pode simplesmente ser.

Uma canção de embalar interior…

Educar uma criança de uma forma carinhosa não é uma viagem perfeita. É um processo lento de questionamento e de cura pessoal. Significa optar por quebrar os mecanismos da educação punitiva para construir uma ligação baseada na confiança.

Significa reaprender a amar como aprendemos a respirar: gentilmente, profundamente, todos os dias.

Por isso, sim, por vezes vamos tropeçar. Mas cada passo nesta direção é uma dádiva. Para a criança que estamos a acompanhar. E para a criança que já fomos.

Lembrem-se: não têm de ser perfeitos. O vosso filho não precisa de um pai ou de uma mãe sem falhas. Eles precisam de si, com o seu coração aberto, a sua vulnerabilidade e o seu desejo sincero de avançar de mãos dadas, em direção a uma luz maior.

Escrito por Alexandrina Cabral

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